sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

On the Charts #18: Os 40 anos do Sheer Heart Attack

Sim, depois de três, TRÊS meses atrasando essa postagem, finalmente vai sair. Como fã de Queen, me sinto um tanto quanto envergonhado por isso, e peço que os outros fãs me desculpem pela negligência, mas não foi só preguiça. Acredito que, se não fosse o vestibular (também), ela sairia mais ou menos perto do seu aniversário real. Bem, vamos ao que interessa. 

Sheer Heart Attack é o terceiro disco de estúdio do Queen, lançado em 8 de novembro de 1974. Marcado por uma reafirmação da sonoridade do segundo disco, de março do mesmo ano, mostra um grande amadurecimento musical da banda, inclusive pelo fato de, finalmente, o disco conter singles de sucesso: Killer Queen e Now I'm Here. Predominado por músicas curtas (a maioria entre dois e três minutos), soa como um prenúncio do que aconteceria um ano depois, no clássico A Night at the Opera. Como já ouvi falar por aí, "o Queen do Sheer Heart Attack é o Queen do A Night at the Opera sem dinheiro". Nada mais que a verdade. Essa era justamente a época que a banda fazia disco em cima de disco, shows diários (às vezes, dois shows por noite, o que contribuiu bastante para o desenvolvimento dos nódulos na garganta de Freddie Mercury), e a grana simplesmente não entrava, porque o rato que eles contrataram como empresário roubava tudo. A música de abertura do A Night, Death on Two Legs, fala sobre isso. Mas essa é outra história, que vai ficar pro fim desse ano. O disco de hoje é outro, então vamos a ele. 

Fundo do CD na versão remasterizada de 2011
Sheer Heart Attack inicia com Brighton Rock. Música mais longa do disco, com cinco minutos, começa devagar, com uma introdução circense, parece uma situação de rua (inclusive alguém assobia "I Don't Like to Be Beside the Seaside". Pra quem não sabe, essa canção popular fecha o Queen II, sendo cantada bem no finalzinho de Seven Seas of Rhye), e depois vai engrenando. Conta com um acelerado ritmo conduzido por Roger Taylor, com um belo uso do prato de condução, vocais em falsete de Freddie, e o principal: um longo solo de guitarra de Brian May. Esse "solo de Brighton Rock" ficou famoso, justamente por ser um momento onde apenas temos a guitarra, toda a música para. Na Magic Tour, por exemplo, uma das músicas do Live At Wembley leva justamente esse nome citado antes. E do que se trata? Um solo de 9 minutos de Brian, com passagens muito similares às da música original. 

Após esse belo começo, temos Killer Queen, fazendo um grande contraste com a música anterior. Sinceramente, se tivesse que citar uma música que tem a cara do Queen, seria essa, e não Bohemian Rhapsody. Enquanto temos guitarras fortes e rápidas em Brighton Rock, aqui temos MUITO piano, uma guitarra que faz as vezes de orquestra (principalmente no solo), um baixo pulsante, muita harmonia vocal, enfim. Uma música com "classe", digamos. O clipe mostra bem isso, que Killer Queen é uma música de... precisão, que não admite improvisos.

Contracapa original. Tu percebe que o negócio tava
feio quando a capa e a contracapa usam a mesma foto...
Seguindo, temos uma das sacadas geniais do Queen: três músicas curtas que, juntas, formam uma música de mais ou menos sete minutos (pra quem não sabe, o Dream Theater fez um cover dessa medley). Começamos com Tenement Funster, cantada por Roger Taylor. Diferente das duas primeiras. Não é acelerada, mas conta com uma bela guitarra, mais roqueira. O próprio Roger canta "oh, gimme a good guitar" durante seus versos. Geralmente as músicas dele são assim. Além disso, essa música tem uma atmosfera mais sombria que é incrível. Mesmo assim, sombria mas nem metade do que é Flick of the Wrist, música que segue a medley. Tanto na sua letra, quanto na entonação de Freddie, passando pelo instrumental, essa música é incrivelmente sinistra. Destaque pro trabalho de May e Taylor durante o solo, e, é claro, as harmonias vocais, sempre presentes. 

Como que para aliviar toda essa tensão das primeiras duas partes da medley, temos Lily of the Valley, com apenas 1:40, mas que são mais que suficientes para Freddie deixar à mostra toda sua genialidade, predominando sua voz e piano durante a maior parte da música. A letra, pra quem não percebe a sutil referência, fala em "king of Rhye", que nos leva para Seven Seas of Rhye. Se não me engano, também há uma referência a My Fairy King, do primeiro álbum. É por esse tipo de coisa que eu falo que o Queen dos anos 70 é insuperável. É uma pena que a fase de sucesso tenha sido justamente os anos 80. 

CD remaster de 2011
Fechando o lado A, temos Now I'm Here. Provavelmente a mais roqueira do disco inteiro, ficou conhecida por sua possibilidade de brincar, jogar bastante com o público durante a introdução, nos shows, coisa que Freddie sempre fez com maestria. O final também, com a famosa reprise. Sempre achei as versões ao vivo superiores à de estúdio, por serem um pouco mais rápidas e pesadas. O auge dessas versões, sem dúvida, foi o Rock Montreal. Bom, isso não é novidade, a turnê do The Game foi, disparadamente, a melhor época para se ver um show do Queen, tanto em relação a setlist quanto performance da banda. Pra quem ainda não acredita em mim, só conferir aqui

Pra quem não conhece esse disco (ou está ouvindo num volume alto), certamente leva um cagaço daqueles quando começa o lado B. In the Lap of the Gods começa com um altíssimo grito de Roger Taylor. Se vocês acham que o "for me" clássico de Bohemian Rhapsody é impressionante, ouçam essa música. Roger grita como nunca aqui (e reproduzia fielmente ao vivo). O único problema dessa música é que, a partir de 1:40, o refrão repete ad eternum, ou, pelo menos, até o fim de seus 3:20, o que fica meio... chato. Apesar disso, o importante, pelo que percebi, não é reparar no refrão, mas no que acontece atrás dele. Os solos de May, os gritos de Roger, enfim. Apesar de ser um pouco mais fraca que as anteriores, é uma boa música. 

CD bônus de 2011
Stone Cold Crazy surge a seguir para acordar o vivente da morosidade do fim de Lap of the Gods. Tá tudo indo bonitinho, até que entra uma verdadeira porrada no disco. Rápida, pesada, alguns dizem até que é uma precursora do metal. Com a cara do Queen, claro. Se querem ver a versão metal dela, sugiro a do Metallica, ficou animal também. E, quando tu pensa que vem outra porrada, chega Dear Friends, mais um momento de Freddie e seu piano. Com apenas 1:07, é a música mais curta do disco, e uma das mais sentimentais. Sua diminuta letra, com apenas duas estrofes, nos faz refletir sobre muita coisa em relação a sucesso, fracasso, início e fim. 

Seguindo, temos Misfire. Uma das músicas menos conhecidas do disco (e do Queen também), mas importantíssima. Além de ter uma atmosfera muito feliz, é a primeira composição assinada apenas por John Deacon. A partir daqui, só melhora, chegando, já no disco seguinte, em um verdadeiro clássico como You're My Best Friend. Uma curiosidade interessante é que todas as guitarras foram tocadas por Deacon também, porque Brian estava se recuperando de uma hepatite. Aliás, a doença de Brian fez com que o Queen cancelasse o resto da turnê de seu segundo disco e entrasse em estúdio com apenas três membros. A saída que a banda encontrou foi "reservar" os espaços para Brian, nas músicas. Engraçado que, inclusive, rolava um medo por parte do Brian que fossem substituir ele. Do outro lado, a banda só pensava em quando ele voltaria. 
Seguindo nesse clima de felicidade, Bring Back that Leroy Brown. Com uma performance exuberante de todos os membros da banda, especialmente Deacon (tocando double bass com uma pegada totalmente anos 50) e May com seu incansável banjo no fundo da música. Sensacional, só o que digo. Em pouco mais de dois minutos, uma riqueza de detalhes impressionante. E, quando pensamos que vai engrenar esse lado agitado, vem She Makes Me (Stormtrooper in Stilettoes).

Cantada por Brian May, She Makes Me não é um destaque do disco, nem de longe, mas é boa para viajar. Sua morosidade, misturada ao melódico vocal de May e seu violão dão uma sensação de melancolia ímpar. Bem, ímpar não. Só Brian conseguia esse efeito com tanta maestria. 39 e Long Away comprovam isso facilmente. O único porém é que, apesar do final dar margem a várias interpretações, deixa a música meio cansativa. Ela poderia acabar uns 30 segundos antes que seria o ideal.

Para fechar o disco, In the Lap of the Gods... Revisited. Nome quase igual, mas uma música completamente diferente. A única semelhança que ela tem com sua "irmã" é o fato do refrão também repetir demais no final. Mesmo assim, é uma música sensacional. Foi relembrada pela banda apenas em 1986, após anos sem ser tocada ao vivo. Nos anos 70, era a música que fechava o show, e com méritos. Ela tem uma pegada de We Are The Champions, muito impactante e tal, feita para fazer o público cantar. Só acho a explosão do final completamente desnecessária. Não faz sentido nenhum aquilo ali.

Bom, eras isso. Finalmente saiu a tão prometida postagem dos 40 anos desse clássico, mais que merecida. Uma última curiosidade é que a música que dá título a esse disco não entrou nele, só foi aparecer lá em 1977, no News of the World. Aliás, ela até andou ganhando clipe fan made. Mudando de assunto, talvez saia outra postagem hoje, não sei ainda. Todo caso, essa aqui tá, modéstia à parte, sensacional. Acho que valeu a pena esperar. Outro On the Charts que vai ser foda é o do Permanent Waves. Não sei se tão ligados, na virada de 2014 pra 2015 ele completou 35 anos. Vai aparecer por aqui, é claro.  

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