sexta-feira, 26 de abril de 2013

Resenha #4: Deep Purple - Now What?!






Depois de muita, mas MUITA enrolação, encheção de linguiça, protelação, intermináveis turnês e declarações opostas de seus integrantes, finalmente o trampo novo do Deep Purple chegou às lojas. Now What?!, disco que já criava uma grande expectativa desde o fim do ano passado, chegou, e chegou com uma força que eu não via desde os tempos do Purpendicular. Se Abandon foi um disco muito abaixo justamente por vir logo depois desse poderoso antecessor, e Bananas e Rapture Of The Deep, apesar de bons discos, são um pouco mornos, Now What?! veio para quebrar essa escrita.

Isso começa pelo fato de, assim como Steve Morse no Bananas, nesse disco estamos finalmente percebendo a personalidade de Don Airey atrás dos teclados, saindo daquela limitada função de "apenas" substituir o saudoso Jon Lord. Além disso, temos, como sempre, Paice destruindo, Glover sempre competente no baixo e Gillan, dentro da limitação imposta pela idade (a perda da potência vocal e da amplitude), fazendo um belíssimo trabalho, afinal, são poucos os que chegam perto dos 70 cantando como esse cara.

Quanto ao disco, começamos com A Simple Song. Confesso que eu achei interessante quando comecei a ouvir, pelo fato deles começarem de leve, com um riff limpo na guitarra, mas mais interessante ainda foi quando, lá pelos 2 minutos, o Purple desce a porrada, e aí é peso até o final da música. Muito bom trabalho de todos, com destaque para o Paice.

Com um "quê" de sinistro, que me lembra bastante Soon Forgotten, temos Weirdistan, segunda música do disco. Com um baixo bem pronunciado durante as estrofes, guitarras dobradas no refrão e um vocal meio desesperado de Gillan, também é uma boa faixa, porém inferior à primeira. Mas o destaque da música fica pelos "espaciais" teclados de Airey no solo. Muito interessante essa fuga do som clássico do Hammond.

Primeira música mais longa do disco, Out Of Hand também possui uma atmosfera sinistra. Sua introdução apenas nos teclados é bem interessante. Essa música me remete a momentos de discos anteriores. Pelos teclados, lembra Bad Attitude, ou o House Of The Blue Light em geral. Pelo andamento da música, algo do The Battle Rages On ou do Perfect Strangers. Além disso, tem um belo riff. Das três primeiras, é a melhor.

Hell To Pay ainda não encontrei a versão completa para ouvir, mas pelo que eu ouvi, que é a versão pra single, acho que não tem muito remédio. É muito enlatada, padronizada... o refrão parece música do Kiss (vai ver é coisa do Bob Erzin), das 4 primeiras é disparadamente a mais fraca. Body Line, que vem na sequência, tem um andamento na bateria que é muito parecido com Ted The Mechanic ou então Sometimes I Feel Like Screaming, principalmente pelo trabalho bumbo, do Paice. Apesar disso, não é nada demais... melhor que Hell To Pay, claro, mas é comunzinha.


Depois dessa sequência abaixo da média, temos um belo som: Above and Beyond. Com um andamento claramente calcado no progressivo, diversas trocas de tempo na introdução, e desemboca numa parte leve (a guitarra lembra um pouco o jeito do AC/DC de tocar, mas só o jeito de tocar as cordas). Pelo que eu ouvi dizer, a letra é de Gillan e começou a ser feita depois da morte do Lord.  Em uma das estrofes, Gillan começa cantando em um tom bem agudo, e o faz com competência. Não chega a ser uma balada, nada de fazer pedras chorarem, mas é bem interessante.

Falando em pedras, Blood From a Stone, música seguinte, tem algo de sensual, mesmo não sendo uma música assim. Lembra muito coisas funkeadas da época do Stormbringer, com Coverdale, como Love Don't Mean A Thing. Aqui, porém, o andamento cadenciado é mais blues que funky, tanto que no refrão temos peso. A guitarra e o teclado aqui estão simplesmente sensacionais.

A música seguinte, Uncommon Man, é a mais longa do disco, com 7 minutos. Foi a primeira música, ainda sem ter o nome divulgado, que apareceu como tease do novo disco. Quando eu ouvi, achei algo bem progressivo, e não deixa de ser. Quando acaba a primeira introdução e entra a bateria linear mesmo, lembra muito os teclados ELP, parece até aquelas cornetas romanas xD uma das melhores do disco também. Além disso, o meio da música, quando fica só teclado e a bateria e baixo marcando o tempo, lembra vagamente On The Run, do Pink Floyd. Aqui, finalmente, temos um solo do Morse que dá pra dizer que é foda mesmo, os outros são bons mas não são destacáveis.

Mesmo Airey tendo assumido um estilo próprio sem emular o Lord, são inevitáveis momentos onde o Hammond é evidente. Après Vous é um destes momentos, é uma música pesada com um teclado muito Lordiano... apesar disso, sem perder o estilo da MK VIII. Aqui temos outro solo de Morse que merece destaque, aliás, o longo duelo de solos merece um destaque. Sonzasso. All The Time In The World era boazinha na versão de single, mas na versão completa ela dá uma boa melhorada, tendo um arranjo mais limpo, menos enlatado.


Fechando a versão standard do disco, temos Vincent Price. A introdução no teclado lembra April vagamente, mas depois dá lugar a uma sinistra atmosfera de guitarras assustadoras e vocalizações, tudo isso com peso, o que dá um resultado bem legal. Além disso, tem um agudo do Gillan que arrebentou, muito foda. Apesar de ser o único exemplar do disco, é impressionante que o véio ainda consiga fazer isso com essa idade.

Como músicas bônus, temos First Sign of Madness e It'll Be Me, as duas bem acima da média, devo admitir. Poderiam tranquilamente (pelo menos a primeira, já que a segunda é um cover) entrar na versão standard do disco, são duas faixas bem trabalhadas e não devem nada pro que foi pra versão final.

Bom, pra uma banda considerada "sombra" e esse tipo de coisa (o que eu sempre vou discordar, depois de ver em 2009 com meus próprios olhos que o Purple ao vivo ainda é uma banda extremamente foda) e, que além disso, considera que realmente só tá gravando o disco pra ter material novo - mais pelo tesão de tocar junto e praticar a milenar arte perdida de fazer material inédito e lançar em álbuns - do que qualquer outra coisa, pois já é uma banda consagrada, o disco tá ótimo.

Apesar de uma ou outra coisinha ali que fica meio abaixo da expectativa, o disco todo tá coeso, tem uma pegada bem pesada até, e é o que vale. Acho que vai sim ser melhor que o disco novo do Sabbath. Não tem nenhum clássico? E daí? O Purple tem clássicos suficientes para tocar 4 ou 5 horas seguidas, não precisamos de mais, sendo um bom disco tá valendo. E é o que você vai encontrar se for ouvir o Now What?!

Falando nisso... Now What?!

Seguinte, pega o disco e vai ouvir porque vale a pena ;)

Um comentário:

  1. muito bom, só tenho que discordar da Hell To Pay,gostei muito dos solos da versão completa, que remetem aos mestres Blackmore e Lord

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